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Ser-se mulher

numa moda de homens.

Ser-se mulher, quer queiramos ou não, pressupõe um desafio acrescido quando falamos de moda e imagem. O julgamento é mais duro, a exigência é mais alta e as possibilidades são mais amplas (em teoria). O equilíbrio entre nos vestirmos respeitando a nossa autenticidade e estarmos adequadas ao meio torna-se muito mais exigente quando se é mulher. E, sendo honesta, só está cansado desta conversa dois grupos de pessoas: mulheres num lugar de privilégio ou, claro, os homens.

mulher numa moda de homens

Começo por esclarecer quando digo “mulheres num lugar de privilégio”. A verdade é que acredito que o julgamento é amplo para todas elas, mas mulheres com um corpo que corresponda mais ao padrão (estando ele, finalmente, a ser rescrito) e que trabalhem com moda, ganham uma liberdade e uma empatia distinta ao olhar do outro.

Digamos que temos uma tolerância maior quando vemos uma fashion influencer a vestir calções de pijama (tendência do momento) em plena cidade do que temos para com uma “comum mortal”. Para uma é estiloso, fashionista e de um sentido estético irreprensível que lhe fica muito bem, mesmo que a nós não. Para outra é de mau gosto, completamente fora de contexto, questionável e sem sentido de estilo algum.

a dualidade do mesmo

Agora, acho que não preciso de esclarecer quando menciono os homens (e acredito que não preciso de mencionar também que não são todos – por favor). A verdade é que a nossa sociedade ainda se pauta muito por esta construção patriacal que coloca os homens no centro da construção e as mulheres num lugar de correspondência de expectativa. E convinhamos, os homens levam uma vantagem considerável na moda (e na vida).

Envelhecer para um homem é charmoso. Inclusive, a famosa “barriga da cerveja” entra num lugar quase de património e não de desleixo. O fato é a salvaguarda de qualquer look charmoso para qualquer festa. Para a mulher as opções são múltiplas e raramente se acerta tão bem quanto. O homem dar nas vistas é incrível, já para uma mulher não fica assim tão bem (e aqui podemos dar de caras com a situação do John Cena nos Óscares que contrasta, e muito, com a reação que a Katy Perry gerou sobre o mesmo assunto – nudez).

mulher numa moda de homens

o reflexo do machismo

Mas ser-se mulher numa moda de homens faz com que nós, as próprias mulheres, construamos uma perceção do que é nossa imagem que nos é completamente desfavorável. Ao contrário do que se pensa, uma sociedade machista não indica que são apenas os homens que criticam as mulheres.

Quer dizer muito mais do que isso – além dessa crítica, nós para nós mesmas criticamo-nos com esse mesmo olhar. Por isso se diz que somos, muitas vezes, “más umas para as outras”. Porque existe, de facto, este olhar que nos ensinou a considerar vulgar numa mulher o que se considera atraente num homem. Fomos todos, homens e mulheres, criados sobre este norte.

mulher numa moda de homens

pensamos juntas?

Ser-se mulher numa moda de homens é, como em tudo, uma prova de resistência. É saber-se que o caminho mais fácil está reservado a eles, mas que a nossa construção existe para ser trabalhada, melhorada e considerada. É um caminho que a ser pautado pela confiança, exige-nos uma profundidade e, sobretudo, um conhecimento acrescido sobre nós mesmas para que se possa, de facto, relativizar a crítica mais feroz.

Por isso, defendo mesmo, de uma forma muito particular, a necessidade de nos conhecermos, realmente. De investirmos nisso de um momento de dentro para fora para, com isso, ganharmos mais clareza sobre como a moda pode ser um reflexo, mais leve, de quem somos. Sobre isso, escrevo aqui e aconselho-te a pensar sobre isto.

Ser-se mulher numa moda de homens é por isso, e ainda assim, muito possível se nos dedicarmos a descobrir a arte de vestir quem somos. E é disso que eu falo e acredito aqui.

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