com os teus looks?
Perdi a conta das pessoas que me chegam a dizer que não se revêem no que vestem, que sentem que não têm estilo, que a sua imagem não é suficiente e que os seus looks são aborrecidos.
Ainda que exista uma percentagem desta leitura que está muito ligada ao “bom” motivo, existe uma parte muito maior que vem do lado errado da história – o digital está a alienar-nos de quem somos, enquanto destrói a nossa autoestima com a ideia de que o que quer que façamos (e vistamos) não é suficiente.
Estar constantemente insatisfeita, nem sempre, é sinal de alguém que procura mais e melhor, de forma legítima. Às vezes, e na maioria delas, é uma forma pouco simpática, muito dura e extremamente banalizada de auto- crítica.
quanto dessa insatisfação é realmente tua?
De verdade, pensem nisto: quanta dessa insatisfação que estamos tão habituadas a sentir e a tratar por tu, é de facto uma insatisfação que vem através da medição da nossa própria régua?
A maior parte da insatisfação que temos com a nossa imagem (nós mulheres), os nossos looks, o nosso estilo vem da comparação nociva que fazemos com as pessoas que seguimos e acompanhamos.
O digital facilitou esse contacto, mas por outro lado mascarou a jornada.
Reparem: nós estamos habituadas a ver a pessoa acertar no look, mostrar aquele em que ficou super bem, acertar na combinação que usou naquele dia (supostamente) à primeira. Mas isso retira-nos do contexto que levou até àquele acerto. Nós não vemos todas as vezes em que a pessoa não acertou, nem os looks que não lhe ficaram bem, nem a quantidade de vezes que mudou as calças, a blusa, os sapatos, acessórios, cabelo e maquilhagem até escolher, finalmente, o look do dia. Percebem?
E ainda que vejamos o resultado final, também não vemos a quantidade de inseguranças, lutas e medos que aquela pessoa travou para vestir aquilo para o mundo.
o problema do imediato
Ficámos ligadas ao imediatismo. De repente, parece fácil, rápido, imediato e muito intuitivo para todas as pessoas menos para nós que estamos a ver. E, obviamente, temos de assumir a nossa responsabilidade nessa leitura “inocente” e tendenciosa.
A verdade é simples, na moda e na vida, existe uma tendência para acharmos que o caminho do outro é sempre mais fácil, mas a sua construção tem das suas batalhas. Não somos assim tão únicas para que essas dificuldades sejam apenas nossas. Este pensamento vem de um lugar um tanto ou quanto egoísta e centralizado.
Mas, puxando para o assunto da moda, temos de desvincular o resultado do outro do nosso próprio resultado porque é isso que destrói a estima por nós mesmas. A régua do outro é a régua do outro e, nesse sentido, mais fácil ou mais difícil, sempre que nossa comparação é com algo que não controlamos, a insatisfação torna-se um resultado inevitável e persistente.
insatisfação crónica?
Este acreditar de que nunca está se está estilosa, bonita, criativa e interessante o suficiente vem raramente do lugar certo. Da comparação entre o que construímos hoje face aos looks que fazíamos no ano passado, por exemplo.
É resultado da comparação com pessoas que vemos no digital e que ou trabalham com moda, ou vivem para a criação da conteúdo e que, não havendo nada errado com isso, existe uma rotina (grande) que as separa da (grande) maioria de nós.
Vamos continuar sempre insatisfeitas se nos inspiramos ou comparamos a pessoas que têm um lifestyle super distante do que aquele que temos agora. Ou se formos incapazes de nos responsabilizar pela interpretação que decidimos fazer disso.
em jeito de conclusão
“Ah, mas onde fica o espaço para querer mais? Para ambicionar mais?” – onde deveria estar sempre. Num lugar de inspiração que motiva e não num lugar que castra. Todas devemos e podemos querer mais. É legítimo querer mudar a nossa imagem, vestir outras roupas, aumentar o nosso sentido estético, mudar de cor de cabelo, mas fazê-lo só vai suprir a insatisfação que queremos resolver quando ela for realmente nossa.
Continuará eterna enquanto não for nossa.
E enquanto não for nossa, a arte de vestir quem somos, perde-se com ela também.