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Será que é com análises de looks

que aprendemos?

De todos os conteúdos que fiz até hoje, as análises de look ou de essência de estilo foram sempre os que mais impacto causaram. Mas a internet está cheia de análises de looks que se pautam por dar notas ao que outras mulheres escolhem vestir baseadas, em exclusividade, no nosso gosto pessoal.

Respeito pela liberdade de expressão, mas será que é com este género de conteúdo que aprendemos mais sobre moda?

moda mais livre?

Voltamos um bocadinho à conversa sobre género e moda. Esta análise de looks banalizada para mulheres tem uma exigência difícil de colmatar e, sobretudo, de satisfazer. Mas, por outro lado, traz ao de cima uma questão pouco explorada mas muito difundida: queremos e exigimos uma moda mais livre.

Queremos poder vestir o que nos representa e construir um “julgamento alheio” mais empático. Queremos que o que vestimos simbolize a nossa diferença, até porque adoramos dizer aquela máxima de que somos todos diferentes.

análise de looks

analisar o outro com o nosso olhar

Agora, em que ponto é que análises de looks onde se atribui notas de 1 a 10 baseadas no nosso gosto pessoal e não no da pessoa que o escolheu, contribuem para alcançar esse tanto de ambição?

Penso nisto muitas vezes. Entre criadoras de conteúdo a consultoras de moda, banalizou-se este hábito de analisar o look de outra mulher sobre o nosso próprio olhar, desvalorizando uma vez mais o seu gosto, os seus objetivos, a sua mensagem, o seu olhar sobre ela mesma e tornando, uma vez mais, o olhar do outro mais importante do que o da pessoa.

Por isso, tive resistência em começar a fazê-lo. Porque acredito e sei, genuinamente, que é muito difícil sairmos da nossa bolha para vermos e analisarmos consoante o sapato do outro, alienadas do nosso gosto.

É um exercício difícil, mas ao qual me proponho cada vez que faço uma análise porque acredito que dessa forma sim posso contribuir para aprendermos todas mais com isso.

Há formas mais gentis de ditarmos a nossa verdade sobre o look do outro. Porque, em última instância, vai haver sempre um pouco do nosso olhar. Nas minhas análises de look e de essência de estilo, está por detrás a forma como EU estudo moda, a forma como EU comunico sobre ela, as teorias que EU acredito e é impossível ser-se totalmente imparcial.

Agora, é possível comunicarmos sobre os outros de uma forma menos centralizada em nós.

Vamos pensar juntas?

Análise de looks

Billie Eilish – o exemplo

Olhemos, por exemplo, para o estilo e para os looks construídos pela Billie Eilish. Arrisco-me pouco ao dizer que a grande maioria identifica-se com as músicas, mas não se identifica com os looks, certo?

Se olharmos para isso, em análises de looks, qual a percentagem da maioria delas ser “corrida” a notas abaixo de 5? Exato, a maioria.

O que é que se aprende mais sobre moda com um vídeo “fechado” que dá uma nota a um look baseado no seu gosto pessoal, assim? (estou genuinamente a perguntar, por isso, ajudem-me a perceber).

uma outra hipótese

Agora, podemos analisar noutra perspetiva?

Imaginemos que escolheríamos um look da Billie Eilish para analisar. Conhecemos o seu registo habitual: cores muito profundas, algumas vezes contrastantes com cores intensas, roupas largas, muito preto, numa pegada dramática e casual.

Esse é o seu registo que, em última instância, representa a sua intensidade, a sua dualidade, a profundidade mais “negra” à qual tem acesso e sobre a qual canta, o seu ímpeto mais despachado, sem dramas e com pressa de fazer acontecer.

Agora, imaginemos que esse look que escolhemos analisar é um vestido florido, fluído, de cores suaves, com sapato de salto alto e uma maquilhagem muito delicada.

Talvez se adequasse um bocadinho mais à maioria, mas será que se adequaria mais a ela?
E, por isso, já valeria uma nota entre 5 e 10, em vez das habituais 1 a 5?

uma análise mais justa

Não é mais interessante pensar nos looks fazendo paralelismos entre ele a pessoa que o escolheu?

Comparando os cenários em que, visualmente, ela sai mais favorecida, ainda que dentro de um registo pouco amado por nós, para percebermos porquê?

Porquê é que fluído favore mais que justo?
Porquê é que é importante a criação de uma assinatura de imagem?
Porquê é que cores profundas casam melhor com os seus elementos de personalidade do que cores suaves?
Porquê é que contrastar cores profundas e intensas faz sentido para representar a sua dualidade?

Não é isto o respeito pela arte de cada um?

para concluirmos juntas

E eu entendo – é mesmo mais fácil de outra forma. Mais imediato, mais rápido, pensa-se e exige-se menos. Torna mais complicado a verdadeira compreensão das coisas e a capacidade de adaptar para nós. Mas se exigimos uma moda mais livre e, por isso, mais complexa, não temos de dar este passo?

Porque eu tenho realmente dúvidas:
queremos uma moda mais livre para todos, ou queremos uma moda mais livre só e unicamente para cada uma de nós?

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