Problema ou Solução?
Quem não ficou encantada com a ideia de ter poucas peças no armário e construir dos mais variados looks? Quem não amou a promessa de poupar tempo e dinheiro, nos dias de hoje?
Quem não venerou a ideia de replicar uma fórmula que parecia sucesso garantido para todas e tratar a moda por tu?
Acho que tu e, provavelmente, todas. É esse o problema das tendências e ainda que o armário cápsula seja uma ideia contra-tendência, a verdade é que a sua construção virou uma.
Como é que isto aconteceu e o que se perdeu pelo meio?
Fórmula “fácil”
O princípio do armário cápsula é, efetivamente, bom. Reduzir o número de peças às essencias, focando na multiplicação de cada uma delas. O problema foi que na construção das peças ideais, elas acabaram a ser as mesmas para todas as pessoas.
Um armário cápsula passou a ter cor de preto, branco, cinza e azul escuro.
Um armário cápsula passou a ter de ter o famoso vestido preto, a famosa camisa branca, a conhecida calça de ganga de lavagem média, o conhecido blazer preto ou creme ou cinza.
E se, efetivamente, esta pode ser a fórmula de sucesso para muitas, não será para todas. Inclusive, arrisco-me a dizer que mesmo para aquelas que acreditaram nesse sucesso, a sensação de limitação veio mais depressa do que a ideia que se vendia.
Limitação
Somos todas diferentes e amamos referir isso. Aliás, defendemos com unhas e dentes essa ideia de sermos, enquanto indivíduos, diferentes de qualquer outro. No entanto, fórmulas como o armário cápsula “vendem” sem pestanejar, em modelo “copy-paste” e questiona-se pouco até ao momento em que nos sentimos extremamente limitadas.
Como disse, e reforço, o princípio do armário cápsula é incrível, mas a sua construção não. Exatamente porque, logo no princípio, ele não respeita o básico – a nossa individualidade.
A fórmula pronta que se vende junto do armário cápsula está extremamente ligada a uma vertente clássica e discreta. A camisa branca é a mesma no corte, no modelo e, obviamente, na cor. No entanto, ela pode e deveria variar de pessoa para pessoa.
E depois, outra questão – o que é que é que são poucas peças? O que é que são muitos looks com as mesmas peças? Como se quantifica o pouco e o muito para um grupo alargado de pessoas? Para mim, poucas peças são 20. Para outras são 10. Para outras ainda poderão ser 50.
A limitação acontece quando a construção do armário cápsula fica presa numa fórmula pronta que desconsidera o mais importante – quem é a pessoa que o constrói.
A resposta não é clara
Se considerarmos a individualidade, um armário cápsula pode ter diferentes cores e formatos. Continuaríamos, se estivéssemos mais abertos a falar de uma moda mais livre, a considerar um armário com cor de rosa, amarelo, azul e laranja, com um vestido vermelho, uma camisa rosa, calça de ganga azul e blazer com padrão, um armário cápsula.
A ideia, como disse desde início, é incrível – queremos menos peças (dentro do que é menos para nós) que nos sendo essenciais (dentro do que é para nós essencial) nos ajudem a construir mais looks com cada uma delas.
Agora, essa ideia pode concretizar-se com uma camisa branca “social”, com uma camisa branca oversized ou cropped, com uma camisa rosa, com uma camisa com padrão, com uma camisa preta, com uma camisa de cetim, com uma camisa de algodão, com uma camisa de popelina…
A ideia é incrível, mas só é solução quando colocamos de nós dentro dela. Sempre que não o fizermos, é (mais um) problema.