Essência de estilo & corpo.
Acredito na importância da estrutura para agilizar o processo (não fosse eu uma criativa), mas acredito que essas estruturas devem servir como guia e auxiliar e não como ferramenta que nos limita e confunde.
Não satisfeita com o que existia, criei a arte de vestir quem se é, que alia aquilo que já existia, mas de um jeito particular e diferente do que até agora se viu. Vamos a isso?
Vestir quem se é
Se para mim a liberdade e a criatividade são questões inegociáveis, faz sentido que aquilo que eu vista reflita isso. Lembro-me de uma pessoa que conheci: cruzei-me com ela diversas vezes na rua, eu e o meu marido, e uma vez ele comentou comigo que a forma de vestir daquela senhora (tem em torno de 40-45 anos, vim a saber depois) era diferente, particular e que ele gostava muito. Aliava naturalidade a criatividade e dentro da simplicidade, conseguia ver-se que era ela era diferente. Concordei. Mais tarde, por coincidência da vida, vim a conhecê-la: era (e é) designer e, de facto, das almas mais criativas que já conheci no trabalho que alia criatividade à simplicidade e ao conforto.
Um claro exemplo de que, de facto, podemos vestir quem somos e fazer com que as pessoas a julgarem-nos (porque se trata de um processo natural e inevitável) o façam de uma forma extremamente próxima a quem somos de verdade.
Agora, será que é simples assim?
Essência de estilo
Simples não é, mas também não é um bicho de sete cabeças quando entendemos que passa a ser uma relação (quase) direta que beneficia mais o abstrato (quem somos) do que o concreto (o que vestimos).
Ainda assim, isso contradiz muito com a ideia que tínhamos dos 7 estilos universais que nos remetiam para um universo fechado de que ténis era casual, blazer era clássico e padrões era criativo. Quem gostava dos três encaixava-se onde, afinal?
Com a frustração que vinha desta limitação, descobri a Teoria das Essências de Estilo de John Kitchener e dei-lhe o meu toque: é a essência, no seu estado mais puro, que guia o resultado e não o corpo.
Assim, temos sete essências de estilo que nos ajudam a nortear as nossas preferências e que se diluem em essências mais masculinas (de um universo mais rígido e direito) e essências mais femininas (de um universo mais fluido e arredondado):
- Dramática (completamente masculina, muito ligada a personalidades onde a persistência, ousadia e força de trabalho são o grande norte);
- Gamine (com um toque ligeiro do universo feminino, muito ligada a personalidades onde a criatividade e irreverência pautam a sua diferença no mundo);
- Natural (com um toque ainda mais acentuado de energia feminina, que está intimamente ligado a personalidades que assentam em muitos opostos);
- Clássica (um total equilíbrio entre os universos masculinos e femininos que é reconhecido exatamente por isso nos traços de personalidade)
- Romântica (já mais feminina que masculina no seu universo, está muito ligada a personalidades onde o magnetismo e sensualidade norteiam os traços mais marcantes);
- Ingénua (muito feminina também no seu universo, onde a grande diferença surge na sua doçura e suavidade perante a vida)
- Angelical (completamente feminina no seu universo, está muito relacionada com personalidades onde o sentido místico e quase esotérico guia a sua jornada).
Acredito que é muito mais benéfico vestir quem somos, sem que isso seja ditado ou limitado pelo nosso corpo e, nesse sentido, as essências de estilo aliadas à personalidade trazem essa liberdade. Agora, será de retirar o corpo da equação?
Não há estilo sem corpo
De facto, não acredito (mesmo) que o corpo deve nortear a nossa identidade de estilo. No entanto, ele tem de ser respeitado e considerado nas nossas escolhas.
Nesse sentido, a teoria de David Kibbe, complexa mas, para mim, a que realmente honra a diferenciação e amplitude que o corpo da mulher tem, é aquela que em termos de princípio deve nortear as nossas escolhas.
Reparem, pegando no exemplo que referi acima: a criatividade aliada à naturalidade tem, de facto, várias formas de ser traduzida dependendo do corpo que estamos a falar. Uma mulher com linha vertical mais alongada (vulgo, aparentemente mais alta), com uma massa muscular menos aparente e estrutura óssea mais fina vai, muito provavelmente, sair favorecida através de peças mais alongadas, com menos marcação e com um tecido mais pesado. Por outro lado, uma mulher com uma linha vertical mais baixa (vulgo, aparentemente mais baixa), com uma estrutura muscular mais carnuda e com uma estrutura óssea mais larga, talvez fique mais favorecida com peças menos alongadas, com uma ligeira marcação da cintura e com um tecido mais leve.
Portanto, o corpo conta e, inclusive, é com ele que vivemos a nossa relação com a moda, por isso, não há como o retirar da equação. Ele não define, mas ajusta.
Para pensarmos juntas
Vestir quem se é, é o culminar destes dois fatores – sendo que a essência é a tradução de autoconhecimento profundo. De relembrar que a nossa relação mais feliz com a moda que nos permite realmente sentir que estamos a vestir quem somos, é consequência deste mergulho que nem sempre sendo óbvio é recompensador.
A essência de estilo, por via da personalidade, guia o processo, norteia o resultado e deslumbra a capacidade de traduzirmos a nossa complexidade em algo mais material através da roupa. O corpo, por sua vez, ajusta o nosso resultado. Faz-nos entender quais os detalhes que permitem traduzir melhor, no corpo, o resultado que se pretende alcançar.
Fim ao cabo, o resultado advém da conjugação entre quem somos no abstrato e da parte de nós que vive isto de forma muito concreta e material – o nosso corpo.